Topo

Leonardo Sakamoto

Eles mandam. Mas quem são eles?

Leonardo Sakamoto

01/10/2011 10h44

Sugiro a todos que visitem o site They Rule.

É baseado em uma idéia simples, mas transformadora: transparência. Ele permite criar mapas que mostram o relacionamento entre as diretorias das maiores empresas dos Estados Unidos. Através dele, é possível constatar que os mesmos diretores fazem parte de conselhos de mais de uma empresa. Está em inglês, mas dá para navegar sem maiores problemas mesmo sem dominar a língua.

Colocar o conselheiro de um banco em um conselho diretor de uma indústria pode facilitar o acesso ao crédito desta. Da mesma forma, o fato de um diretor de um conglomerado automobilístico sentar em uma diretoria de uma fábrica de autopeças pode significar um planejamento conjunto. Mas se por um lado isso tende a facilitar o desenvolvimento dessas empresas, por outro é um indício da criação de estruturas que manipulam o mercado, protegem fornecedores barateiros que operam quase na ilegalidade, decidem os preços, entre outras coisas.

O site mostra que a instância decisória está concentrada nas mãos de poucas pessoas, que acabam por ser responsáveis sobre o que o resto da população pensa e consome. As informações são todas checadas e revisadas, mas os responsáveis pelo projeto afirmam que, às vezes, não é possível estar 100% atualizado uma vez que "diretores de corporações têm o hábito de morrer, deixar diretorias, entrar em outras e transmitir posições a seus filhos, que não coincidentemente também são encontrados entre os membros dos conselhos de empresas norte-americanas".

Só por curiosidade, fucei uma pequena rede formada por empresas e diretores, sem explorar todas as possibilidades. Ela começou na Microsoft, chegando à General Eletric e Merck. Um mesmo diretor da GE também sentava nos conselhos da Chevron Texaco, Dell e Coca-Cola. Um outro participava da diretoria da Motorola. Considerando apenas um dos diretores, temos ligação da Motorola com a Abbott Laboratories e o JP Morgan Chase.

O Brasil merece um site igual a esse. Seria uma boa proposta para um trabalho de conclusão de curso em jornalismo, conjugando um pouco de técnica de programação, uma certa dose de investigação e muita paciência para a leitura de relatórios e páginas das próprias empresas na internet.

Com certeza, a estrutura não seria muito diferente. E explicaria muita coisa.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.